Informações aos pacientes

O que é Anemia Falciforme?

O nosso sangue é formado de células vermelhas chamadas de hemácias. As hemácias são células redondas repletas de um pigmento chamado de hemoglobina, que dá a cor vermelha ao sangue. Essa hemoglobina chama-se A, de adulto. A hemoglobina e o ferro são responsáveis por levar o oxigênio do pulmão para todo o corpo, para que todos os órgãos funcionem bem. Vocês já ouviram falar muitas vezes em anemia. A anemia é a diminuição da hemoglobina no sangue. Na maioria das vezes, essa diminuição ocorre por falta de ferro no sangue,razão pela qual os órgãos não recebem a quantidade suficiente de oxigênio e não podem desempenhar bem suas funções. A hemoglobina A e o ferro têm uma função muito importante. Se uma pessoa não tem uma alimentação adequada ou tem verminose ou perda de sangue por doença, ela pode ter anemia por falta de ferro.

Mas existe um outro tipo de anemia, com nome de anemia falciforme. É uma anemia que acontece porque algumas pessoas não têm a hemoglobina A e, no seu lugar, produzem outra hemoglobina diferente daquela, chamada hemoglobina S. A hemoglobina S não exerce a função de oxigenar o corpo de forma satisfatória, razão pela qual tais pessoas têm sempre uma anemia que não se corrige nem com alimentação nem 6 com ferro. Nessas pessoas, as hemácias, em vez de redondas, tomam a forma de meia lua ou foice. Essas células afoiçadas têm muita dificuldade de passar pelas veias, que levam o sangue para os órgãos, ocasionando seu entupimento e muitas dores, principalmente nos ossos.
POR QUE ESSA DOENÇA É TÃO COMUM NO NOSSO MEIO?
Cabe aqui contar uma pequena história.Há muitos anos, na África, a malária matava muitas pessoas. Por tal motivo, a natureza resolveu proteger seus filhos da morte pela malária,provocando neles uma alteração genética que chamamos de mutação,alterando a informação que vem no gene (DNA). Com a alteração, essas pessoas passaram a produzir a hemoglobina S, em vez da hemoglobina A. Assim, quem tivesse na hemácia a hemoglobina S não seria infectado pela malária. Com isso, diminuiu muito a morte pela malária em virtude da imigração forçada, isto é, do tráfico de africanos e dos movimentos populacionais em busca de melhores condições de vida, essa mutação se espalhou pelo mundo. No Brasil, pelo fato de o país ter recebido uma grande população de africanos e por apresentar alto grau de mistura de raças, existem muitas pessoas com anemia falciforme, principalmente os afrodescendentes.
COMO ESSA DOENÇA SE TRANSMITE?
A anemia falciforme é a doença hereditária mais comum no mundo
e no nosso país. Todas as características do nosso corpo são feitas por informações que recebemos dos nossos pais por meio dos genes, que vêm no espermatozóide do pai e no óvulo da mãe. Os genes determinam, nas pessoas, a cor dos olhos, dos cabelos, da pele, a altura, etc. Com a hemoglobina não é diferente. Se uma pessoa receber, do pai, um gene com mutação para produzir a hemoglobina S e, da mãe, outro gene com a mesma característica, tal pessoa nascerá com um par de genes com a mutação e, assim, terá anemia falciforme.
MAS O QUE É O TRAÇO FALCIFORME?
Se uma pessoa receber somente um gene com a mutação, seja do pai ou da mãe, e o outro gene sem a mutação, ela nascerá somente com o traço falciforme. O portador de traço falciforme não tem doença e não precisa de tratamento especializado. Ele deve ser bem informado sobre isso e saber que, se tiver filhos com outro portador de traço falciforme,poderá gerar uma criança com anemia falciforme ou com traço ou sem nada.

O que sente uma pessoa com Anemia Falciforme?

Aumento do baço
Aumento do baço

As pessoas com anemia falciforme têm sintomas muito variados.Elas podem não ter quase nenhum sintoma, necessitando de pouca transfusão de sangue ou mesmo de nenhuma e, portanto, com excelente qualidade de vida. Mas existem algumas pessoas que, mesmo com acompanhamento médico adequado, têm crises muito graves da doença,com sintomas de dores ósseas, na barriga, infecções de repetição às vezes muito graves, podendo levar à morte.

Alguns doentes podem ter crises de anemia mais intensas e mais rápidas, necessitando de várias transfusões de sangue com urgência. As crises variam de gravidade e de tipo conforme a idade da pessoa. Os bebês têm mais infecções e dores com inchaço nas mãos e nos pés. Nas crianças maiores, as dores estão mais localizadas nas pernas, nos braços e na barriga. Alguns doentes podem ter até mesmo derrames cerebrais,com lesões graves e definitivas. No dia-a-dia, as crianças com anemia falciforme são diagnosticadas com palidez e muitas vezes apresentam o branco dos olhos amarelado, como na hepatite, sintoma que chamamos de icterícia. Nos adultos, as crises mais freqüentes também são de dores nos ossos e complicações devido a danos ocorridos ao longo de sua vida,aos órgãos mais importantes, tais como o fígado, os pulmões, o coração e os rins. Na idade adulta também é comum o aparecimento de úlceras(feridas) nas pernas, que são machucados graves de difícil cicatrização.crise-de-dor-nos-ps-bebs

QUAIS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS PARA UMA PESSOA COM ANEMIA FALCIFORME?
Quando descoberta a doença, o bebê deve ter um acompanhamento médico adequado baseado num programa de atenção integral ao doente com anemia falciforme. Nesse programa, os pacientes devem ser acompanhados por toda a sua vida por uma equipe com vários profissionais.
Tal equipe deve ser treinada no tratamento da anemia falciforme para orientar a família e o paciente a descobrir rapidamente sinais de gravidade da doença, a tratar adequadamente as crises, quando presentes, e a praticar medidas para prevenir as crises da doença e as infecções graves. A equipe deve ser formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, dentistas, etc. Além disso, as crianças devem ter seu crescimento e desenvolvimento acompanhados, como normalmente é feito com todas as outras crianças que não têm a doença.
QUANTO TEMPO VIVE UMA PESSOA COM ANEMIA FALCIFORME?

A ciência avançou muito no conhecimento da doença e de seu tratamento adequado. O tempo e a qualidade de vida das pessoas com a doença dependem: (1) do diagnóstico feito pelo teste do pezinho, logo ao nascimento; (2) do início da atenção integral; e (3) do envolvimento da família com o conhecimento sobre a doença e a prática do tratamento proposto.

Úlcera de perna
Úlcera de perna
O DIAGNÓSTICO SÓ É FEITO PELO TESTE DO PEZINHO?
Não, mas o ideal é que toda criança, na primeira semana de vida,seja levada ao posto de saúde, para tomar as vacinas de BCG e hepatite B, e para que sejam colhidas as gotinhas de sangue do pé, para se fazer o teste do pezinho. Esse teste não é feito somente para a anemia falciforme; ele é utilizado também para a detecção precoce de mais duas doenças: a fenilcetonúria e o hipotireoidismo congênito.

TESTE DO PEZINHO PARA ANEMIA FALCIFORME

Teste do pezinho
Teste do pezinho
Para os que não fizeram o teste do pezinho, existem o teste de afoiçamento e o teste da mancha, como exames de triagem, e a eletroforese de hemoglobina, como exame confirmatório.
ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA
É importante conhecermos a anemia falciforme, porque ela está muito presente na nossa população. Dados do teste do pezinho mostram que nascem no Brasil cerca de 3.500 crianças, por ano, com doença falciforme e 200.000 com o traço falciforme entre os recém-nascidos vivos.Esses números se configuram como questão de Saúde Pública.
Como foi dito anteriormente, quanto mais cedo o diagnóstico, melhor a qualidade e o tempo de vida dessas pessoas. A seguir, estão os resultados do teste do pezinho nos três estados onde a anemia falciforme é mais presente.
  • Bahia:
A cada 650 crianças que nascem, uma nasce com doença falciforme.
A cada 17 crianças que nascem, uma nasce com traço falciforme.
  • Rio de Janeiro:
A cada 1.200 crianças que nascem, uma tem doença falciforme.
A cada 21 crianças que nascem, uma tem o traço falciforme.
  • Minas Gerais:
A cada 1.400 crianças que nascem, uma tem doença falciforme.
A cada 23 crianças que nascem, uma tem o traço falciforme.
O programa de atenção integral é uma reivindicação antiga do movimento de homens e mulheres negras. O nosso país tem uma grande dívida social com os afrodescendentes, que, em sua grande maioria, pertencem aos segmentos sociais de maior risco. A anemia falciforme não tem cura. Porém, existem tratamentos que dão à pessoa com a doença o direito a uma vida com qualidade e proporcionam à família conforto e segurança.
OBJETIVO PRIMORDIAL:
Promover uma mudança na história natural da anemia falciforme no Brasil, reduzindo a taxa de mortalidade e de adoecimento dessas pessoas.